O seminário “Biofábricas: produção, qualidade e impacto dos bioinsumos para a agricultura tropical sustentável”, foi realizado dia 7 de maio, na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, Minas Gerais, durante a 16ª Semana de Integração Tecnológica.
“O seminário teve como proposta de valor disponibilizar conhecimento das práticas produtivas e alternativas tecnológicas sustentáveis voltadas para o desenvolvimento regional e inclusão produtiva. Evidenciamos os benefícios da multiplicação e produção de microrganismos produzidos em biofábricas de forma qualitativa e quantitativa”, disse o engenheiro agrônomo Sinval Rezende Lopes, coordenador do evento.
A primeira palestra “Programa Nacional de Bioinsumos” foi proferida pelo auditor Marcos Vinícius Segurado Coelho, do Ministério da Agricultura e Pecuária. “O Programa foi instituído em 2020 para ampliar e fortalecer o uso de bioinsumos no Brasil e beneficiar o setor agropecuário. É uma política bastante hesitosa que tem vários instrumentos. Um deles é de apoio financeiro à produção e ao uso de bioinsumos, outro é de estímulo ao estabelecimento de biofábricas para uso próprio. Outra linha de atuação do programa é o aperfeiçoamento da legislação”, disse.
Coelho ressaltou alguns resultados do programa, desde o seu lançamento. “Recentemente, surgiu a Lei 15.070/2024, que fala especificamente sobre os bioinsumos. E, o principal resultado de todo este esforço do governo é o grande número de produtos que estão registrados, hoje, e que são oferecidos ao produtor. Mais de 700 bioinsumos são hoje autorizados para uso na agricultura. E esse número cresce ano a ano”, descreveu.
O pesquisador Fernando Hercos Valicente apresentou a palestra “Tecnologias, microrganismos e a produção de bioinsumos. “A gente tem hoje o bioinsumo, porque temos o começo, o meio e fim de um processo para a produção de um produto biológico. Quando eu comecei em 1983, fizemos um levantamento amostrando lagartas e, deste levantamento, conseguimos parasitoides e isolados eficientes contra a lagarta do cartucho. Mas, não havia o meio e nem o final que é a formulação do produto, para ser colocada à disposição do agricultor. Finalmente, conseguimos melhorar os processos de produção e as formulações”, contou Valicente.
“A Embrapa possui um banco de microrganismos multifuncionais com mais de 11 mil os. Nossas pesquisas estão focadas em controle de pragas, doenças, estresse hídrico, controle de crescimento. O trabalho com produto biológico envolve organismo vivo. Por isso tem que haver a viabilidade, a conservação, a pureza e o controle de qualidade. Porque falo de pureza e viabilidade? Porque estamos mexendo com vírus, bactéria, fungo e produto biológico que está formulado. Então, é preciso manter a viabilidade desse produto em tempo de prateleira. É importante respeitar o produto biológico”, relatou Valicente.
Em seguida, Carlos Henrique de Paula, proprietário da empresa Inovar, abordou “Biossegurança e infraestrutura básica, adequadas à nova legislação para produção de bioinsumos para uso próprio.
“A biossegurança e a infraestrutura da biofábrica são importantes para minimizar riscos operacionais, garantir a eficácia do produto e a conformidade com as normas legais. Nosso objetivo é promover uma tecnologia mais sustentável para a produção de bioinsumos, de forma responsável, para a toda cadeia produtiva do setor nacional agrícola. Trazer inovação, clareza e informação de que a gente consegue produzir de forma sustentável, com muito tecnologia aplicada e com custo justo para o produtor rural”, afirmou Carlos Henrique de Paula.
O assunto “Cooperativismo e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável” também compôs o seminário. O presidente do Conselho istrativo do Sicoob Credinacional, Artur Andrade, disse que “cada vez mais as cooperativas atuam como agente que está próximo da comunidade, do cooperado e das pessoas que tomam decisões. Atuamos com a promoção de ações de cooperação técnica e de transferência de conhecimento, algo que temos feito junto com a Embrapa Milho e Sorgo, no sentido de levar a pesquisa e o conhecimento aos nossos produtores”.
“É importante que estejamos junto com essa renomada instituição, a Embrapa Milho e Sorgo. Quando a gente percebe o entendimento que se tem do potencial da região Central Mineira, especialmente, nesse projeto de desenvolvimento social, as nossas cooperativas estão alinhadas, estão participativas, buscando preparar esse território para esse novo momento. As cooperativas de crédito devem estar junto com vocês, ajudando para que as tecnologias cheguem ao homem do campo. Vocês buscam reduzir os custos e nós vamos buscar os recursos financeiros”, destacou Andrade.
“Nos preocupamos com o desenvolvimento sustentável. Não somos uma instituição de pesquisa, mas nos interessamos em saber o que está acontecendo, para levar essa mensagem para os nossos produtores rurais, nosso grande público aqui na região. Enfim, buscamos transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz e com oportunidades para todos”, enfatizou Andrade.
As discussões sobre os temas apresentados nas palestras foram moderadas pelo chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento, Lauro Guimarães. Ele ressaltou que “as tecnologias desenvolvidas na Embrapa Milho e Sorgo, que envolvem bioinsumos a base de microrganismos e macrorganismos (insetos benefícios, parasitoides e predadores naturais de pragas) são disponibilizadas para uma agricultura mais sustentável, por meio de parcerias com a iniciativa privada, empresas, e agentes multiplicadores na rede de assistência técnica e transferência de tecnologia. A Biofábrica Embrapa, inaugurada durante a 16ª SIT, dará maior dinâmica e velocidade para as pesquisas nessa área, e amplia oportunidades para identificação de variabilidade útil nos bancos de microrganismos multifuncionais para o desenvolvimento de novos bioinsumos e para a inovação aberta, bem como para as parcerias”.
Qualidade de tecnologias para a agricultura tropical 121e15
A chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo ressaltou que “a Embrapa é referência nacional e internacional em confiabilidade e qualidade de tecnologias para a agricultura tropical. E, especificamente na Embrapa Milho e Sorgo, um dos Centros de Pesquisa da empresa, localizada em Sete Lagoas – MG, esse destaque diferenciado pode ser percebido no desenvolvimento de bioprodutos comerciais de alto impacto”.
“Desenvolvemos o BiomaPhos, o primeiro solubilizador biológico de fosfatos do Brasil, que é um sucesso em adoção e impacto no Brasil e em outros países do mundo (Embrapa, 2024), uma parceria público-privada com a indústrias Simbiose e Bioma, a partir de cepas de alto valor agregado de Bacillus subtilis e B. megaterium, do banco de microrganismos da Embrapa”, disse Rios.
“Também desenvolvemos dezenas de inseticidas biológicos para o controle das principais pragas do milho e da soja, um deles o bioinseticida Acera (Embrapa, 2021), que tem um diferencial competitivo ao controlar mais de uma praga de importância agrícola, combatendo por exemplo a lagartas lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a lagarta falsa-medideira Chrysodeixis includens, em cultivos de soja, milho e algodão. E já temos lançamentos de novos bioprodutos inéditos em 2025. Além disso, atuamos de forma disruptiva na rota biotecnológica, com o desenvolvimento, em parceria com a empresa brasileira Helix, do primeiro evento transgênico 100% brasileiro, o BTMAX, que confere resistência à lagarta-do-cartucho, a partir de um gene Bt, do banco de microrganismos da Embrapa (Embrapa, 2022)”, pontuou Rios.
“Quando começamos em 1983, vislumbramos um grande potencial técnico-científico a explorar racionalmente, e os avanços da ciência, do marco legal e as dinâmicas dos mercados permitiram até o momento gerar os produtos e contribuir para essa dinâmica de bioprodutos no Brasil”, comentou o chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Frederico Ozanan Machado Durães.
“Nosso grande esforço como instituição pública nacional, talvez sem precedentes, demonstra o compromisso da Embrapa com o sistema de produção agropecuária brasileiro, sua sustentabilidade efetiva e o respectivo sucesso da produção nas lavouras, a partir da adoção de tecnologias inovadoras, de práticas e processos diferenciados, de protocolos de qualidade rastreáveis, amparados agora por uma nova legislação específica, que contribuirá para a regulamentação de processos neste tema”, afirmou Rios.
“Importante destacar o tamanho do desafio nacional a partir dos objetivos deste Programa Nacional de Bioinsumos (Decreto Nº 10.375, de 26 de maio de 2020) e da nova Legislação (Lei 15.070 de 23 de dezembro de 2024). Parece haver um amplo espaço, reaquecido exponencialmente, para a discussão e aprendizado nacional em estratégias cada vez mais robustas de desenvolvimento de novos bioprodutos, fortalecimento de rotas tecnológicas múltiplas, proteção intelectual dos ativos, ampliação da segurança jurídica para os investimentos tecnológicos realizados no país, ampliação da qualidade dos insumos e da rastreabilidade das produções nas biofábricas e nas propriedades. De forma que temas como escassez de produção e uso de tecnologias, biopirataria, contaminações na indústria ou a campo, falhas em qualidade de processos e/ ou fragilidades legais, não se resumindo a apenas a estes, possam ser objeto de trabalho diário de todas as instituições, para garantir avanços contínuos e fortalecimento das capacidades competitivas do Brasil, com a seriedade e a qualidade nacional que se espera”, comentou Rios.